quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Woodstock e a Guerra do Vietnã

Woodstock clamava pela paz, pela não proliferação de armas, e nesse período a Guerra do Vietnã já havia matado milhares de norte-americanos
Por Eduardo Sá
O texto abaixo contextualiza a situação política no Estados Unidos em relação à
Guerra do Vietnã de modo a destacar a luta pela paz em Woodstock, uma
das correntes do movimento.
O ano de 1969 nos Estados Unidos foi festejado em forma de contestação por grande parte da população norte-americana. Anteriormente, não só o mundo, mas inclusive a grande potência econômica mundial, enfrentou períodos conturbados como, por exemplo, o assassinato do candidato à presidência Robert Kennedy e do líder negro pacifista Martin Luther King; John Kennedy já tinha sido morto em 1963 quando era presidente. Era a esperança de tempos melhores indo por água abaixo no país. Esperanças de mudar o quê? Ocorre que nesse período valores relacionados à família, drogas, sexualidade, direito das mulheres, raça, dentre outros, estavam sendo questionados publicamente em todo o mundo. Ainda por cima, os Estados tinha se metido numa guerra cada vez mais sem sentido e delicada, de se retirar sem manchar sua imagem imperial; era a Guerra do Vietnã. De fato, os Estados Unidos foram surpreendidos por uma nação minúscula e miserável que resistiu à sua enxurrada armamentista, daquelas à la ficção-científica que lhes é tão singular.
E quando dói internamente, fato raro de acontecer ou omitido dos noticiários, quando milhares de patriotas morrem ou são mutilados, começa a incomodar e cogitar-se alguma disfunção na máquina que havia se metido em mais uma guerra. A prepotência transformou-se em frustração sem fundamento, já tinham usado mais bombas que em toda a II Guerra Mundial e sistematicamente morriam pessoas de ambas as partes, então manifestantes foram às ruas. Mas para compreender como isso repercutiu nos Estados Unidos é preciso primeiro entender o porquê do conflito e que lugar é afinal o Vietnã, país até então desconhecido aos olhos do mundo.
Esse pequeno país localizado na Indochina tem um histórico de total opressão que vem desde os primórdios, há mais de 500 anos, com a China e os mongóis, até se tornar, a partir de 1858, colônia francesa. Como toda lógica colonial, a França explorou sua população e os recursos naturais da região, além de entupi-los de drogas através do álcool e o ópio, tal qual no Brasil com o craque e a cocaína nas camadas populares. Até que, em 1947, o Vietnã proclama sua independência, curiosamente baseada nos princípios da constituição dos EUA, seu próximo inimigo. Isso devido à perda de força da França, pelo desgaste com a Alemanha na II Guerra Mundial e o Japão, adversário tanto da França quanto do Vietnã. Os japoneses aproveitaram para explorar a situação dominando o Vietnã, mas pouco depois são atacados em Hiroshima com a bomba nuclear e os vietnamitas, enfim, se libertam. A festa dura pouco, no ano seguinte a França volta e reivindicar sua colônia sendo amplamente financiada pelos Estados Unidos, inimigo do Japão, que a partir daí passa a ser determinante. É conflito para tudo quanto é lado e o Vietnã nesse processo encontra-se em vias de transformações sócio-culturais, comandadas pelo líder Ho Chi Min, cujo lema era simples e extremamente eficaz: plantar (arroz), estudar e guerrear. Mesmo com toda opressão os vietnamitas conseguiram culturalmente conscientizar toda a população e gerar um nacionalismo bravamente resistente independente da idade, sexo, ou o que quer que fosse.
Em 1956, tendo forte mobilização popular e grande possibilidade de Ho Chi Min subir ao poder de maneira democrática, ocorre a intervenção externa dos Estados Unidos sob alegação de subversão interna, indo contra as leis internacionais. Nessa altura já tinham conseguido dividir o Vietnã em dois, Vietnã do Norte e Vietnã do Sul. A conscientização da população nativa chegou ao ponto de incomodar o primeiro mundo que, como sempre, instalou uma democracia a sua maneira, independente dos interesses locais.
O pretexto para a intervenção americana e estopim da guerra foi um ataque vietcongue no Golfo de Tonquim em 1964. Um país inexpressivo no cenário mundial e até então praticamente desconhecido atacou as esquadras norte-americanas, que seria as mais poderosas do mundo. Eis a história oficial, ao velho estilo ocidental. A partir daí começou o genocídio.
No final das contas os Estados Unidos deu um tiro no pé, apesar de escoar todo o depósito de sua indústria bélica, pilar de sua economia. A situação foi ficando insustentável, mas os meios de comunicação deram uma mãozinha, seguiram a procissão da globalização ao distorcerem as informações, de acordo com seus interesses comerciais; afinal, não vale a pena desprestigiar o Tio Sam, portanto seu discurso foi legitimado. As conseqüências foram as piores, e deixaram seqüelas até hoje nos dois países. As baixas são inestimáveis, e a degeneração espiritual irreparável.
Essas foram algumas das razões que fizeram o povo norte-americano ir às ruas. Em 1967 estudantes fizeram a Marcha ao Pentágono, seguido de protestos na Convenção do Partido Democrata. Os Panteras Negras lutaram pela igualdade racial, jovens foram reprimidos ao se reunirem num parque que ficou conhecido como o Parque do Povo, dentre outras agitações. Até que houve o auge das manifestações, quando conseguiram aglomerar todas as discordâncias àquele sistema num só lugar, o show conhecido mundialmente até hoje como Woodstock, em agosto de 1969.
Ninguém mais agüentava guerras. Tudo o que eles queriam era dar uma chance à paz. Resistiam ao serviço militar, clamavam pela não proliferação de armas e para que a corrida armamentista cessasse a fim de harmonizar a humanidade. A paz era uma das principais bandeiras levantadas em Woodstock, junto a tantas outras. Infelizmente, até hoje os Estados Unidos são os que mais vendem armas em todo o planeta, sua indústria irradia a morte mundo afora. Nas palavras de John Reed “as guerras crucificam a verdade”. Mas, enquanto isso, o norte do hemisfério ocidental as forjam segundo seus interesses.

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