quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock´n roll

Filme baseado nas tirinhas em quadrinhos de Angeli, foi produzido por Otto Guerra, e lançado em circuito nacional em 2006.
Por Adriana Schimit, Juliana Alcantara e Tais Veturino

Otto Guerra criou essa animação em 1978, na época com apenas 22 anos. Em 1999, quando ganhou um concurso de baixo orçamento MINC, iniciou a produção do filme, que foi um grande marco em sua carreira. Depois desse empreendimento, continuou a carreira com outros sucessos, tais como: 'As cobras', 'Nave mãe', 'Novela', 'O arraial', 'O reino azul', 'O natal do burrinho', entre outros.
Para saber mais sobre a influência do movimento de Woodstock na obra de Otto, é só ler a entrevista aqui abaixo, gentilmente cedida para o nosso blog.

Bloogstock - A princípio, o que te impulsionou no projeto do filme 'Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n Roll' ?

Otto - Admiro e me identifico com o trabalho do Angeli, então parecia natural tentar adaptar os quadrinhos do cara pra cinema. Claro, em desenho animado, que é a área onde eu atuo.

Bloogstock - O Festival de Woodstock e toda a ideologia que o cerca foi sua inspiração nessa obra especificamente? Ou é algo que você leva para outros trabalhos?

Otto - Inspirou a criação do autor (Angeli). Minha identificação tem a ver com a crítica que ele faz em relação aos fracassos, tipicamente humanos, como foi a parada do movimento "flower power" e a contracultura. Pior ainda, tentar manter esse comportamento no mundo de hoje!

Bloogstock - Na sua opinião, o que do momento que a gente vive hoje culturalmente tem de igual com 69?

Otto - Tudo, esse nossa civilização judaico-cristã ocidental segue consumista, imediatista e individualista (cada vez mais, aliás). Ou nada; na época diziam "o sonho acabou" e acabou mesmo.

Bloogstock - Como você define os personagens Wood e Stock?

Otto - Dois velhos decadentes equivocados e felizes no seu mundo retardado, onde serão crianças para sempre.

Bloogstock - Ainda nos dias de hoje podemos classificar como ousada a iniciativa de se fazer um filme de animação visual no Brasil. Como você analisa essa atual fase do cinema nacional que traz o jovem cineasta com as mesmas questões de violência urbana?

Otto - Acho que o desenho animado brasileiro atual não contempla de um modo geral a violência urbana. O "Wood & Stock", por exemplo, trata de amor livre, regado a orégano e rock'n'roll.

Bloogstock - Essa violência seria o grande entretenimento das massas na atualidade?

Otto - O tema violência sempre esteve presente em qualquer manifestação cultural humana.

Bloogstock - Atualmente a animação visual tem tido uma ótima repercussão em festivais como, por exemplo, o Anima Mundi, que acontece no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas, apesar da grande aceitação do público e crítica, dificilmente esses filmes entram em cartaz no grande circuito. Como você avalia o espaço concedido para o entretenimento do lúdico, da animação no Brasil?

Otto - A animação, como o cinema brasileiro, precisa vir a ser uma indústria e justificar uma ampla distribuição nacional e internacional. Infelizmente, no Brasil, quando surgiu a televisão, em meados dos anos 50, a indústria cinematográfica, equivocadamente, não se associou a ela. Pelo contrário, o cinema tratou a incipiente televisão como uma possível futura concorrente. Como se sabe, a televisão no Brasil surgiu a partir de empresas de radiodifusão e a rivalidade entre cinema e televisão no Brasil segue até os dias de hoje!

Bloogstock - É uma questão de mudança cultural? Temos que aprender a apreciar também as animações brasileiras, já que as internacionais são sempre bem-vindas nas grandes salas de exibição?

Otto - Precisamos primeiro fazer nosso cinema de animação. Estamos engatinhando ainda, mas esse momento é o melhor de toda a história do cinema de animação no Brasil. Existe uma simpatia muito grande dos órgãos públicos, que regulamentam o audiovisual em nosso país, e um "boom" espontâneo de produção em virtude da era da informática.

Bloogstock - De acordo com algumas publicações na época do lançamento do filme, a palavra "sexo", que constava no subtítulo, ocasionou diversas desistências de possíveis investidores - mesmo levando em consideração que a obra de Angeli é nacionalmente conhecida. Na sua opinião, o empreendedor brasileiro ainda teme por ter o seu nome associado a uma imagem "mais descolada"?

Otto - Não só no Brasil, mas em todo o mundo. Estive num festival internacional de cinema animado na Itália e eles ficaram espantados com o fato de um filme ter no nome "Sexo, Orégano e Rock'n'roll" e ser patrocinado com dinheiro público. Disse-lhes que o Brasil é um dos países mais avançados em práticas de incentivo cultural no mundo atual.

Bloogstock - Existe algum projeto para uma continuação do filme? Quais são seus planos para o próximo ano?

Otto - Estamos produzindo um filme chamado "Fuga em ré menor para kraunus e pletskaya", baseado numa peça de teatro chamada "Tangos e Tragédias", uma comédia musical ligeira, mas com um profundo questionamento sobre a aculturação. Começamos no final de 2006 e pretendemos finalizar em meados de 2010. Quanto ao 'Wood & Stock II' ainda não cogitamos a hipótese.

Sinopse do Filme: “Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’n Roll”

No réveillon de 1972, na casa de Cosmo, os então jovens Wood, Stock, Lady Jane, Rê
Bordosa, Rampal, Nanico e Meiaoito vivem intensamente suas existências hippies.
Trinta anos depois, os personagens sentem o peso do tempo passado em suas
realidades adultas. Para tentar retomar os velhos tempos, eles promovem um
reencontro de sua antiga banda de rock.
Vozes principais: Zé Victor Castiel
(Wood), Sepé Tiaraju de Los Santos (Stock), Rita Lee (Rê Bordosa), Tom Zé
(Raulzito), Michele Frantz (Sunshine), Felipe Mônaco (Rampal e Rhalah Rikota),
Janaína Kremer (Lady Jane), Léo Machado (Meia Oito), Antônio Falcão
(Skrotinhos), Otto Guerra (Dr. Kosseritz), Heins Limaverde (Nanico), Julio
Andrade (Overall) e Geórgia Perck (Purpurina). Produção: Otto Desenhos Animados
Gênero: Desenho Animado. Tempo: 81 minutos. Lançamento: 12 de outubro
de 2006. Classificação etária: 16 anos.

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