segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A influência de Woodstock no Brasil

Por Ana Eliza Sabino, Leonardo Vicente, Gabriel Mattos, Antônio Augusto Rocha
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A influência de Woodstock em nosso país pode ser detectada na música (Raul Seixas, Made in Brazil, a última fase dos Mutantes), no teatro (Oficina, Tuca), na cinematografia (o chamado cinema marginal) e, sobretudo, nos costumes, com os bichos-grilos que percorriam as estradas como caronas, indo e vindo à meca de Arembepe (BA), além de criarem comunidades urbanas e rurais onde exercitavam um estilo alternativo de vida. Essas tentativas, entretanto, esbarraram no ambiente repressivo dos anos de chumbo, o que levou, por exemplo, a ser expulso do Brasil o elenco do Living Theatre de Julian Back, que supôs encontrar aqui seu paraíso tropical; e, em termos mais amplos, na própria impossibilidade de contingentes mais amplos, num país pobre como o nosso, garantirem indefinidamente seu sustento com artesanato, aulas de ioga e que tais. A grande vitória da Geração Woodstock foi ter conseguido arrancar os Estados Unidos do Vietnã. E seu exemplo repercute até hoje no ativismo em defesa do meio ambiente e a favor de algumas causas justas. Além disto, ela entronizou a imagem do jovem como centro do universo do consumo, em substituição ao modelo rígido do pai de família, daí derivando a descontração no vestir, no falar e no se comportar. E ainda lançou alguns modismos que hoje estão em menor evidência, como o ioga, a macrobiótica, o ocultismo e a agricultura natural (sem defensivos e fertilizantes). Não perduraria, entretanto, aquela militância política idealista e generosa: as gerações seguintes se desinteressaram de mudar o mundo, voltando a priorizar a ascensão profissional e social. O rock, depois de uma fase intensamente criativa e experimental, voltou aos caminhos seguros do marketing. As drogas, ao invés de abrirem as portas da percepção, se tornaram instrumentos para a fuga à realidade e a ilusão de onipotência, cada vez mais pesadas, até que se chegou ao pesadelo do crack. E o amor livre degenerou sexo casual, promiscuidade e AIDS. O sonho acabou? Talvez. Mas, quem o partilhou só lamenta que haja durado tão pouco e tenha sido substituído por uma realidade tão insossa. Daí existirem até hoje jovens cultuando algo que não viveram e dificilmente viverão. Como disse o Gilberto Gil antes de virar ministro: quem não dormiu no sleeping bag , nem sequer sonhou...

Imitações brasileiras de Woodstock

*Festival de Verão de Guarapari - ES
O Brasil também tentou emular a aura hippie. Em 1971, na cidade de Guarapari, foi realizado o "Festival de Verão de Guarapari", que, devido à falta de verbas dos organizadores foi um fracasso retumbante. Organizado por Antônio Alaerte e Rubens Alves, o evento foi anunciado como a versão brasileira de Woodstock. Aproximadamente duzentos jornalistas compareceram a Guarapari para a cobertura do festival. Se depararam com a falta de recursos tecnológicos da cidade, que não contava com nenhuma agência telegráfica e nem linha telefônica local; todas as chamadas eram feitas através de Vitória, e ainda assim com grande dificuldade. Às vésperas do início do festival os organizadores ainda lutavam para conseguir o mínimo equipamento sonoro necessário. Sem o apoio dos vários patrocinadores procurados e sem ter obtido auxílio oficial, o equipamento foi conseguido apenas um dia antes das apresentações começarem, e mesmo assim somente após um acordo com a firma fornecedora. No dia da abertura, 11 de fevereiro, os promotores ainda tentavam conseguir a instalação de som e a apresentação dos artistas sem o cachê combinado previamente. O início do concerto, programado para as 7:00 da noite, atrasou quase quatro horas, enquanto o público vaiava e atirava sacos de areia no palco. Pouco antes da meia-noite o apresentador Chacrinha surgiu para acalmar a multidão, e o concerto teve início.[ O espetáculo recomeçou novamente atrasado no dia seguinte, com a apresentação de artistas que atenderam aos apelos de Carlos Imperial para salvar o festival de um fiasco completo. Em lugar do público de 40,000 pessoas esperado, compareceram pouco mais de 4,000. A participação dos hippies, o principal quesito de um festival que pretendia emular Woodstock, foi vetada pela Polícia Federal, que declarou, "Para nós, hippie é o sujeito sujo, com mau cheiro, cheio de bugigangas nas costas e que pode perturbar o andamento do espetáculo. Esses não poderão participar do festival, nem como público." Os organizadores, mesmo após todos os esforços, tiveram de correr em busca do auxílio do estado, conseguindo com o governador de Espírito Santo passagens para o retorno dos artistas e com o prefeito de Guarapari o pagamento das respectivas contas nos hotéis.

Artistas que participaram do evento

The Bubbles, Tony Tornado, Milton Nascimento, Som Imaginário, Ângela Maria, Novos Baianos, ERA, Soma

*Festival de Águas Claras - SP

Já em janeiro de 1975, na Fazenda Santa Virgínia, em Iacanga, interior de São Paulo, aconteceu o primeiro "Festival de Águas Claras", também anunciado como o pretenso "Woodstock brasileiro O Festival de Águas Claras foi um evento musical que que contou com importantes músicos brasileiros e teve quatro edições, em 1975, 1981, 1983 e 1984. O festival foi feito na Fazenda Santa Virgínia, na cidade de Iacanga, interior de São Paulo. Os organizadores chamaram o evento de "uma grande quermesse brasileira", comentário absolutamente válido contando que participaram músicos de rock 'n' roll como Raul Seixas e Apokalypsis e MPB, como João Gilberto, Egberto Gismonti, entre muitos outros. O Festival de Águas Claras é o grande sinalizador do fim da época do movimento hippie, a era Flower Power. Uma grande reunião de pessoas celebrando a Paz e o Amor, clamando por um mundo justo e pacífico.

Participantes da edição de 1975

Mutantes, Som Nosso de Cada Dia, Terreno Baldio, Apokalypsis, Walter Franco, Ursa Maior, Moto Perpétuo, Jazco, Tibet, Burmah, Grupo Capote, Jorge Mautner, Acaru Raízes, Corpus
Mitra, Marcus Vinicius, Nushkurallah, Rock da Mortalha, O terço, entre outros.

Participantes da edição de 1981 / 4,5 e 6 de setembro
Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Egberto Gismonti, A Cor do Som, Moraes Moreira, Bendegó, Hermeto Paschoal, Papete, Almir Sater, Duduca e Dalvan, Consertão, 14 Bis, Oswaldinho, Diana Pequeno, Novos Valores, Raul Seixas, Tetê Spindola.

Participantes da edição de 1983 / 2, 3, 4 e 5 de junho

Armandinho e o Trio Elétrico de Dodô e Osmar, Arthur Moreira Lima, Egberto Gismonti, Fagner, Grupo Premê, Jorge Mautner, Sandra Sá, Moraes Moreira, Oswaldinho, Paulinho da Viola, Paulinho Boca, Raul Seixas, Sá e Guarabira, Expresso Rural, Sivuca, Wanderléia, Walter Franco, Erasmo Carlos, Wagner Tiso, Língua de Trapo, Participação especial de João Gilberto

Rock in Rio

Muito mais do que apenas de música, o ROCK IN RIO fala de sensibilidade na identificação e seleção de alternativas marcantes para promover o desenvolvimento do turismo no Brasil e, de modo especial, para o resgate de uma imagem positiva do Rio de Janeiro nesse concorrido e competente mercado internacional.
O ROCK IN RIO é afirmação de maturidade junto ao "trade" turístico internacional e aos maiores produtores mundiais de shows. E também um exemplo do posicionamento adequado num país como o nosso, em que muitos se comprazem em lamentar as crises, sem atentar para as inúmeras oportunidades que elas encerram. Em 1984, o ano em que o Rock In Rio, o mais ambicioso projeto de um evento internacional a ser realizado no Brasil, começou a ser anunciado, não existia muita coisa no Brasil, não. Não tinha eleição para presidente, não tinha presidente, só tinha general. Não tinha revista Bizz, que hoje lamentamos a falta (mas tinha a Roll), não tinha TV a cabo, nem Internet, nem CD, nem DVD, nem show de rock. Não tinha TV aberta como é hoje (sim, ela era pior, se auto censurava), não tinha jornal falando de rock, não tinha nada. Conta-se nos dedos os shows de bandas que tocaram por aqui antes do Rock In Rio: Kiss, Police, Van Halen, Genesis, Alice Cooper, Queen e talvez alguns mais. Roberto Medina era só o irmão de um deputado situacionista (naquela época esquerda e direita eram coisa nítidas e fáceis de se diferenciar) que tinha como grande feito ter lotado o Maracanã com um espetacular show de Frank Sinatra. Uma bela credencial, aliás. Mesmo assim, poucos acreditavam que tudo daria tão certo. Tem gente que até hoje não acredita que tudo tenha dado tão certo. O Rock In Rio foi o grande divisor de águas, dentro e fora do rock daquela época. Nunca havíamos visto tantos artistas, a maioria no auge de suas carreiras, em shows espetaculares e de padrão internacional. Depois do Rock In Rio, depois do chamado verão do rock, que começou em 81 e só foi terminar em 86, nada mais foi como antes. O rock e o mercado da música se estabeleceram, a Bizz se estabeleceu, e outras revistas vieram a reboque, a chamada Nova República (nem tão nova assim, com um coronel civil no poder) desencantou, empresários e artistas internacionais passaram a ver o Brasil como viável para eventos (tínhamos a fama de dar calote em artistas), as gravadora passaram a investir mais ainda, o Plano Cruzado ajudou e nunca se consumiu tantos disco como naquela época. Assim se fez os anos 80, década que, para muitos, se equivale aos anos 60 lá de fora. Tudo, antes e depois do Rock In Rio.
Abaixo a programação dos dias do festival, em sua primeira edição, no Rio de Janeiro, em 1985, e sua respectiva estimativa de público (de acordo com a organização):
11 de Janeiro de 1985 (300 mil pessoas)
Queen, Iron Maiden, Whitesnake, Baby Consuelo e Pepeu
Gomes, Erasmo Carlos, Ney Matogrosso

12 de Janeiro de 1985 (250 mil pessoas)
George Benson,
James Taylor, Al Jarreau, Gilberto Gil, Elba Ramalho, Ivan Lins

13 de Janeiro de 1985 (90 mil pessoas)
Rod Stewart. Go
Go's, Nina Hagen. Blitz, Lulu Santos, Os Paralamas do Sucesso

14 de Janeiro de 1985 (30 mil pessoas)
James Taylor,
George Benson, Alceu Valença, Moraes Moreira

15 de Janeiro de 1985 (50 mil pessoas)
Scorpions, Barão Vermelho, Eduardo Dusek, Kid Abelha &
Os Abóboras Selvagens

16 de Janeiro de 1985 (40 mil pessoas)
Rod Stewart, Ozzy Osbourne, Rita Lee, Moraes Moreira, Os
Paralamas do Sucesso

17 de Janeiro de 1985 (20 mil pessoas)
Yes, Al Jarreau, Elba Ramalho, Alceu Valença

18 de Janeiro de 1985 (250 mil pessoas)
Queen, Go Go's, The B-52's, Lulu Santos, Eduardo Dusek, Kid
Abelha & Os Abóboras Selvagens

19 de Janeiro de 1985 (250 mil pessoas)
AC/DC, Scorpions, Ozzy Osbourne, Whitesnake, Baby Consuelo
e Pepeu Gomes

20 de Janeiro de 1985 (200 mil pessoas)
Yes, The B-52's, Nina Hagen, Blitz, Gilberto Gil, Barão
Vermelho e Erasmo Carlos

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