quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O Mundo em 69

Por Arley Macedo da Silva

O ano de 1969 foi, certamente, um dos que mais apresentou mudanças políticas sociais e culturais nos últimos tempos. A muitas formas de se tentar apresentar uma nova visão de humanidade dividiram muitos países e geraram conflitos diplomáticos e bélicos.

Um dos grandes acontecimentos desse ano foi o Festival de Woodstock, que pretendia ser apenas de um festival musical, mas que, no final das contas, deu também sua contribuição política, por ter fugido do contorno puramente cultural.

As ações políticas de Estados e as ações de grupos rebeldes davam o tom da época. Os confrontos eram, muitas das vezes, iniciados por causas totalmente legítimas, mas em seu decorrer, os ideais se perdiam por conta do grande fluxo de possibilidades de pensamento e de novas propostas que a todo tempo surgiam.

Esse grande fluxo de possibilidades de visão de mundo, num primeiro momento, pode parecer saudável, pois possibilita a diversidade, no entanto a prática corrente não reafirmava essa tendência. O ponto de dissonância era exatamente a maneira como se tratavam as diferenças, os grupos políticos revolucionários, organizações religiosas, milícias paramilitares, além dos grupos se colocarem contra a ordem instaurada, com total aversão a tudo o que não fosse delimitado por seus valores e ótica. Numa primeira análise, esses grupos buscavam o lugar do opressor, e não a liberdade para o oprimido.

Essa busca de novas formas de humanidade por certo ocasionou avanços na sociedade mundial, seja no campo político ou no campo tecnológico. Não podemos deixar de enquadrar a ida do homem à lua como parte desse avanço, ainda mais por ter acontecido neste mesmo ano. As reorganizações na política do Oriente Médio certamente foram frutos desse fluxo de novidades no pensamento e busca de liberdade. A nomeação de Golda Méier para o cargo de Chefe do Estado de Israel, a criação da ditadura islâmica por Muammar Kadafi, a eleição de Yasser Arafat como líder da OLP (Organização para Libertação da Palestina), e as conseqüentes mudanças no tom com o qual o Oriente passou a se dirigir ao Ocidente foram as raízes da política daquela região tal como a conhecemos hoje.

O Brasil também teve suas agitações em 1969, depois dos arrochos e conturbações de 1968, que deixou todo um legado, uma série de questões a serem discutidas, principalmente a guerrilha urbana, que perdia para a ditadura seu mais ativo militante Carlos Marighela, que dois meses antes de ser morto, foi peça importante no seqüestro do embaixador norte-americano no Brasil, exigindo a libertação de seus companheiros presos pela ditadura.

Essas e outras ações políticas, movimentos de guerrilha e extremismos religiosos, na verdade tinham algo em comum com Festival de Woodstock, por mais estranho que possa parecer - ambos queriam mudanças! O que difere um ideal do outro é a forma como se tratava a diferença desses movimentos puramente políticos. O que se podia notar era uma aversão ao estabelecido por suas sociedades. Em Woodstock havia espaço para simplesmente privilegiar as diferenças, sem que nenhuma delas representasse ameaças entre si ou para as diferenças que não estavam representadas ali. A grande contribuição desse festival foi apresentar as diferenças como algo inerente a sociedade humana - Aprender a respeitá-las ou centenas de outros conflitos continuarão surgindo e consumindo a vida dos jovens desse e dos próximo tempos.

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